O coelho-bravo é uma espécie chave nos ecossistemas mediterrânicos. Outrora muito abundante no território português, as suas populações foram drasticamente reduzidas devido a duas doenças infeciosas graves (mixomatose e doença hemorrágica viral) e também devido a alterações nas paisagens rurais.
A Contenda não escapou a esta tendência. De abundante passou a rara e muito rara, ocorrendo de forma muito localizada ao longo da propriedade. Pela sua importância para a conservação da natureza, o coelho-bravo foi alvo nos últimos anos de várias intervenções de fomento e valorização, quer no período de gestão Serviços Florestais (como é o caso da execução dos primeiros cercados de reprodução, que viriam a acolher coelhos retidos em ilhas pelo enchimento da barragem de Alqueva) quer no período da empresa municipal. Várias destas intervenções foram enquadradas em projetos de conservação direcionados ao lince ibérico e ao abutre preto tendo a Liga para a Proteção da Natureza assumido um papel crucial nas ações desenvolvidas na Contenda. É conhecida a importância que o coelho-bravo representa nas cadeias tróficas e estrutura da vegetação dos ecossistemas no mediterrâneo. Para a Contenda é uma prioridade a recuperação das suas populações, tão importante para a conservação de espécies com o lince ibérico, o abutre-preto, a águia-imperial, o gato-bravo, entre outras, dado seguimento a um modelo de conciliação da atividade cinegética com a conservação e recuperação de espécies.
Curiosamente, a menos de 20 km a noroeste da Contenda, na Central Solar de Amareleja – detida maioritariamente pela ACCIONA Energía –, a espécie é abundante. A instalação de comunidades de herbáceas e a presença de outras condições adequadas, favoreceu a colonização do espaço por esta espécie herbívora que, por sua vez, vai auxiliando no controlo da vegetação em redor dos painéis. Não obstante, devido à alta densidade de povoações de coelhos, tornou-se necessário encontrar soluções para a manutenção sustentável do ecossistema local.
Foi neste enquadramento, aliando uma necessidade de gestão a um fim de conservação da natureza, que foi desenvolvida uma base de entendimento e colaboração entre a Central Solar de Amareleja e a Herdade da Contenda, com vista à translocação de coelhos entre os dois locais.
Reunidas as necessárias autorizações por parte do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, decorreu no mês de maio a primeira etapa de uma série de capturas e translocações de coelho-bravo, com recurso a furões devidamente registados para o efeito e sob supervisão veterinária. As intervenções contaram com o inestimável apoio da Liga para a Proteção da Natureza
Nesta primeira etapa foram capturados e depois libertados na herdade da Contenda mais de três dezenas de coelhos-bravos que, a médio prazo, se esperam assim vir a reforçar as populações locais. A expectativa é bastante elevada, não só pela boa condição física dos animais capturados, como por se apresentarem perfeitamente adaptados ao clima deste território e à predação natural.
